Conselho Nacional de Educação
TeresaV

A EUNEC - Rede Europeia de Conselhos Nacionais de Educação, organizou um Seminário de peritos para debater o conceito de "Bildung" numa perspectiva de desenvolvimento ao longo da vida.
No Seminário, que decorreu em Budapeste nos dias 9 e 10 de Maio, participou a conselheira Teresa Vasconcelos em representação do CNE. No texto que se segue dá-nos conta do debate realizado e das principais conclusões.

Teresa Vasconcelos

 

O conceito de “Bildung” aprofundado no seminário da EUNEC 

“Bildung” é um conceito tradicional da pedagogia germanófila, que não tem uma exacta tradução em língua inglesa (a língua oficial do EUNEC) nem tão pouco nas línguas latinas. O conceito “Bildung” foi introduzido na Alemanha pelo filósofo e diplomata alemão Wilhem von Humbolt (1767-1835) e significa “o desenvolvimento do ser humano”. É um conceito muito mais amplo do que a terminologia europeia de “educação/formação ao longo da vida”, porque é menos “tecnocrático” e menos orientado para a educação formal (escolaridade obrigatória; formação vocacional; formação universitária, etc.) e para uma perspectiva meramente “funcional” da educação: perspectiva-se  no desenvolvimento global do cidadão/cidadã numa orientação humanista e integra saberes, competências, criatividade, usufruto da arte e cultura, julgamento moral e pensamento crítico.

Claro que o que alguns mais recentes pedagogos e filósofos da educação estão a fazer (por exemplo: Van Crombrugge, Higher Institute of Family Sciences, University College, Bruxelas, um dos oradores convidados no seminário; Simone Barthel, presidente do EUNEC; Adries Van der Rest, secretary-director do Conselho Nacional de Educação dos Países Baixos) é um trabalho de “re-visitação” do conceito “Bildung”, originário do século XIX, procurando um modo de o “re-pensar” e “re-definir” à luz do século XXI e dos grandes dilemas com que se debate a União Europeia.

Assim, durante o seminário, em que estiveram representados diferentes Conselhos Nacionais de Educação Europeus (Hungria, França, Reino Unido, Bélgica Países Baixos, Lituânia, Chipre, Espanha, Estónia e Portugal) debateu-se que sentido pode ter o conceito de “bildung”, enquanto princípio regulador, face aos problemas educativos da União Europeia, nomeadamente no  trabalho de criação das “benchmarks”[1] que comparam a evolução dos respectivos sistemas educativos: investimento público em educação; generalização da oferta de educação dos 0 aos 6 anos; evolução nos desempenhos dos alunos ao nível da língua, matemática, ciência e tecnologia; insucesso escolar; educação das raparigas; emprego e participação em educação/formação ao longo da vida; aprendizagem de línguas estrangeiras; gastos em investigação; situação dos professores (temos 7 milhões de professores na UE!); etc.

Considerou-se fundamental investir na educação dos 0 aos 6 anos como alicerce e estrutura fundadora do bildung. Uma intervenção de Edward Melhuish (Birbeck, Universidade de Londres) veio corroborar a importância de um investimento nos primeiros anos, já que bildung aposta no desenvolvimento global do ser humano. Tivemos a oportunidade de divulgar a Recomendação recentemente produzida pelo CNE sobre “A Educação dos 0 aos 3 anos”.

Zoltán Loboda, que apresentou o Relatório da Reunião Informal de Ministros da Educação realizada no âmbito da presidência húngara da UE (Março 2011), insistiu nas conclusões que apontam para a importância de reconstruir os conteúdos do conceito de cidadania activa com uma nova ênfase na:

-         capacidade económica/literacia financeira;

-         empreendedorismo;

-         sustentabilidade ambiental;

-         coesão social e das comunidades;

-         competência intercultural

Os participantes no seminário transpuseram estas recomendações para a discussão do bildung, tendo insistido em questões ainda mais amplas:

-         bildung e desenvolvimento sustentado; 

-         educação, questões de género e bildung; 

-         educação em sociedades interculturais; 

-         que novo “cosmopolitismo”?

-         que professores para o bildung?[2]

-         que novo papel para as instituições de formação de professores?

-         profissionalismo docente e bildung

-         envolvimento e parcerias com famílias e bildung

-         educação não-formal e bildung;

-         bildung e a formação de um “consumidor” esclarecido e solidário;

-         qualidade de vida, tempos livres, lazer, cultura, estética e bildung.

Os delegados presentes, conduzidos por Simone Barthel foram construindo, ao longo das conferências e debates, um conjunto de propostas no âmbito da reflexão sobre o “bildung”. Estas serão redigidas na forma de um Statement a ser posteriormente divulgado pelos países membros da EUNEC e na Comissão Europeia.

Teresa Vasconcelos
Membro do CNE

 

[1] Comissão Europeia, Bruxelas, Abril de 2011. Education Benchmarks for Europe.

[2] De salientar a interessante intervenção de Adrie Van Der Rest sobre bildung e o novo papel dos professores nos Países Baixos (objecto de um próximo seminário do EUNEC) para ajudar as novas gerações a conquistarem uma ampla visão da sociedade e do seu papel activo e critico no desenvolvimento dessa mesma sociedade.

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