Plenário do Conselho Nacional de Educação: uma sessão a várias vozes
No passado dia 30 de outubro, realizou-se no Conselho Nacional de Educação a 152.ª sessão plenária, que contou com a presença de duas figuras cimeiras da nossa vida cultural: a cientista Maria Manuel Mota, Diretora executiva do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes da Universidade de Lisboa e o escritor Gonçalo M. Tavares. Na abertura do evento, o Presidente do CNE, Domingos Fernandes, referiu que a abertura das sessões plenárias a individualidades de diferentes domínios da nossa vida pública permite contribuir para a criação de um sólido espaço público da educação, situado para além da espuma dos dias. Se é preciso uma aldeia para educar uma criança, é necessário falar de educação a várias vozes: vozes de “mentes abertas e ideias libertas” que nos convoquem à reflexão, que nos provoquem, que nos façam sair da comodidade do discurso uníssono, cristalizado e cinzento.
Na sua intervenção, a cientista Maria Manuel Mota rememorou o caminho que percorremos no sentido da universalização do acesso à educação. Sendo a Educação um direito humano, referiu, é imperioso que cada um de nós tenha acesso a uma educação de elevada qualidade. Para Maria Manuel trata-se de um imperativo simultaneamente ético e pragmático. Ético porque só a educação é o caminho da construção da humanidade, pragmático porque só a qualidade garante que “cada mente brilhante tenha a possibilidade de brilhar”. A descoberta do tesouro exige que a escola se transforme no lugar da arte da pergunta, do questionamento, do pensamento divergente e livre. Nela, o conhecimento, a vocação e o sonho caminham de mãos dadas, pois a Educação mais não é do que a busca incansável das perguntas certas, cujas respostas nunca serão definitivas.
Apresentação da cientista Maria Manuel Mota pelo Presidente do CNE
Excertos da intervenção de Maria Manuel Mota
(Intervenção integral – aqui)
O escritor e poeta Gonçalo M. Tavares iniciou a sua intervenção com um elogio da curiosidade, pois na “Educação não se trata de encher um balde, trata-se de acender um fogo”. A metáfora, mais do que a teoria, é capaz de movimentar multidões. A escola não pode reduzir-se a um sistema de eco que convoca a repetição, é preciso acender o fogo da curiosidade, da inquietude e do entusiasmo, referiu. A Educação não se reduz ao útil: a utilidade é aquilo que anda e o entusiasmo é aquilo que salta. O entusiamo é da ordem do divino, o método é da ordem da máquina. Não é fácil ensinar o entusiasmo, referiu o poeta, porque o entusiasmo precisa de entusiastas que o ensinem. A poesia tem o dom de despertar talentos e contagiar-nos de entusiamo. A mera utilidade produz máquinas amorfas, o entusiasmo produz livres-pensadores.
Apresentação do escritor Gonçalo M. Tavares pelo Presidente do CNE
Excertos da intervenção de Gonçalo M. Tavares
(Intervenção integral – aqui)
A voz da ciência e da literatura fizeram-se ouvir no Conselho Nacional de Educação, lembrando que há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas e na gaiola nenhum pássaro é capaz de aprender a voar.