Conselho Nacional de Educação

 

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                       A MOTIVAÇÃO COMO RESULTADO

                     Texto da Conselheira Maria Emília Brederode Santos 

Instalação, feita por alunos, numa escola Holandesa,visitada no âmbito
do encontro da EUNEC

 

O tema anunciado do último encontro da EUNEC, realizado em Amsterdão dias 21 e 22 de maio, era “a excelência na educação” mas, na realidade quase todas as comunicações acabaram por tratar da motivação – ainda que com novas nuances e distinções. Aliás alguns dos subtítulos são disso sinal:

A conferência de abertura, de Monique Volman, Professora na Universidade de Amsterdam, se tinha como título geral “Excellence in Education”, propunha, como sub-título, “A question of talent and engagement”; E a comunicação de Vincent Donche, investigador do grupo EduBROn do Instituto de Ciências da Educação e da Informação da Universidade de Antuérpia fazia seguir ao título geral “Give pupils the opportunity to excell” a interrogação “How to create the conditions to motivate, inspire, stimulate pupils?”

Monique Volman criticou a tendência dos últimos anos para acentuar os resultados individuais de aprendizagem e num número restrito de matérias, pressionando as escolas para se orientarem para os exames finais o que considerou uma concepção muito limitada e perigosa. Defendeu que a verdadeira “excelência” requer que a educação valorize e desenvolva em todos os alunos uma ampla variedade de talentos e que o faça promovendo empenhamento. Defendeu ainda que o “empenhamento” não é só uma qualidade dos processos de aprendizagem, mas também dos próprios resultados da aprendizagem.

Este “empenhamento” tem dimensões comportamentais, cognitivas (o estudante é capaz de se esforçar mentalmente?) e emocionais (o aluno encara a escola alegremente ou com aborrecimento?) e pode ser modificado através de mudanças no ambiente escolar. Monique Volman descreveu investigações relativas ao empenhamento como uma qualidade dos processos de aprendizagem e depois como uma qualidade dos resultados da aprendizagem, apresentando várias práticas em que se procurou que os resultados da aprendizagem tivessem significado para os alunos; que envolvessem uma participação “periférica” e suscitassem o seu desenvolvimento para uma participação “central” e o sentimento de que se pode “fazer diferença” e desempenhar um papel positivo no mundo.

Isto é: a motivação está de volta. Dá-se-lhe de novo importância no processo educativo mas agora não apenas para aprender e sim também como resultado de aprendizagem. Quer-se formar pessoas motivadas, empenhadas, desejosas de se realizarem e de se ultrapassarem, capazes de investirem em si, nos outros e numa obra.

A comunicação de Vincent Donche incidiu nas questões nucleares: “Por que se quer aprender?”; “por que há alunos que não querem aprender?” ; e “que condições está provado cientificamente que motivem, inspirem e estimulem a aprendizagem?” Distinguiu três linhas de investigação sobre motivação:

- a investigação sobre a motivação para o estudo; sobre o interesse no estudo; e sobre a auto-eficácia na aprendizagem. Retomou a distinção entre motivação intrínseca e extrínseca, defendendo a sua combinação e a sua utilização num enquadramento mais vasto da teoria da auto-determinação. Mostrou que o interesse e a motivação apresentam uma forte correlação. Apresentou os resultados da sua meta-análise à investigação sobre as condições da vontade de aprender, arrumando-os nos níveis do aluno, da sala de aula e da escola. Identificou 10 princípios para o nível da sala de aula:

. Boas relações professor-aluno;

. clima de aprendizagem segura (cooperação);

. transparência e natureza dos objectivos da aprendizagem;

. abordagem de ensino dirigida ao apoio à autonomia;

. objectivos claros e estruturados;

. desencadear e desenvolver o interesse dos alunos;

. diferenciação e apoios aos alunos;

. utilização de feedback e recompensas;

. consciência de diferentes concepções de aprendizagem, concepções dos alunos e do próprio professor.

 

Destes factores fez decorrer 10 recomendações para os professores criarem condições que motivem os alunos para aprender:

1. Através de empatia, autenticidade e escuta activa, promover uma boa relação com os alunos;

2. Criar um clima de aprendizagem seguro – flexível, adaptado às necessidades dos alunos, estabelecendo limites e criando laços;

3. Escolher assuntos, métodos e actividades que possam desencadear ao máximo o interesse dos alunos - relacionando-os com os interesses já existentes e despertando-os para outros interesses;

4. Ajudar os alunos a estabelecerem uma relação com a matéria a aprender, especialmente quando não existe um interesse espontâneo pelo assunto;

5. Escutar de forma autêntica os alunos e estar aberto a resistências e a emoções negativas;

6. Usar uma linguagem que promova a autonomia em vez de uma linguagem controladora (evitar sobretudo uma linguagem que possa induzir sentimentos de vergonha);

7. Estruturar as lições e clarificar os objectivos de aprendizagem, adaptando esses objectivos às necessidades dos alunos, utilizando guias de estudo e materiais abertos, promovendo a autonomia e a auto-regulação;

8. proporcionar tarefas de aprendizagem desafiantes mas atingíveis (referência à zona de “desenvolvimento optimal” de Vygotsky; visando o aumento de experiências de aprendizagem bem sucedidas e levando os alunos a sério);

9. Proporcionar feedback – positivo e não negativo – aos alunos pelo que fazem e como podem atingir os objectivos de aprendizagem;

10. Tomar consciência das suas próprias necessidades, interesses e motivação profissional.


Defendendo este regresso à educação centrada no aluno, o conferencista terminou com um apelo a que os professores avaliem estas condições na sua sala de aula, considerando ainda – e por aí se relacionando também com a conferência anterior - que essa avaliação não deverá incidir apenas nos resultados académicos mas também na motivação dos alunos como resultado da aprendizagem.

Os conferencistas seguintes incidiram a sua comunicação na necessidade de excelência, entendida mais no sentido habitual, justificando Frank van der Duijn Schouten essa necessidade pela excessiva (no seu entender) preocupação com a igualdade que existiria nas escolas do seu “flat country” (Holanda – os Países Baixos…) Nesta perspectiva, apresentou um rol de sete competências que caracterizariam a excelência num professor:

. competências interpessoais

. competências pedagógicas

. conhecimento da matéria

. competências organizativas

. capacidade de trabalhar em equipa

. abertura ao mundo

. competências reflexivas e de inovação.


Carmel Borg da Universidade de Malta intitulou a sua comunicação “School – Laboratory for Life” falando das condições organizativas das escolas que pretendam promover “a elevação das aprendizagens para todos com a urgência de proporcionar acesso de qualidade a oportunidades educativas aos mais vulneráveis da sociedade”. Mostrando que a criação precoce de vias diferenciadas pode ser devastadora para as crianças, defendeu, baseando-se em OCDE, 2010, escolas inclusivas, comportando uma grande diversidade de populações estudantis e ricas em opções e caminhos personalizados; professores especializados em dar apoio aos que “ficam para trás”; escolas e autoridades que confiam no profissionalismo dos professores e os respeitam como intelectuais; um currículo que vise a excelência, inclusive - ou mesmo sobretudo - nas vias vocacionais e que torne as actividades extra-curriculares inter-curriculares; equipas de profissionais que promovam aconselhamento e orientação.

No debate, introduzido por comentadores ( Mia Douterlungne, Elena Hadjikakou, Manuel Miguéns), levantaram-se questões que ecoaram as preocupações do momento: Como elevar o nível de educação para todos os alunos sem aumento de custos?

No dia seguinte visitou-se uma escola que, partindo da análise dos resultados do PISA na Holanda e concluindo que, sendo uma escola bastante equitativa e apoiante para os alunos mais fracos, não seria suficientemente desafiante para os mais fortes, resolvera introduzir actividades oferecidas a todos os alunos, voluntárias e pensadas para constituírem desafios a quem queira ir mais longe.

Num desafio às capacidades motoras dos participantes no Encontro e num teste à durabilidade das aprendizagens feitas durante a infância, seguiu-se uma visita de bicicleta a edifícios escolares do início do século XX, de uma extraordinária modernidade.

O Encontro teve lugar em Amesterdão a 21 e 22 de Maio 2012 e de Portugal seguiu uma delegação constituída pela Presidente do CNE, Ana Maria Bettencourt, o Secretário-Geral Manuel Miguéns e a Conselheira Coordenadora da 4ª Comissão Mª Emília Brederode Santos.

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